A Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, no distrito de Cachoeira do Campo, um dos mais antigos de Ouro Preto, é palco e testemunha de fatos marcantes da história do Brasil. No templo católico datado de 1700, o português Manuel Nunes Viana (1670-1738) foi sagrado, em 1708, primeiro governador de Minas, durante a Guerra dos Emboabas. Já em 1720, na Sedição de Vila Rica, Felipe dos Santos (1680-1720) foi preso, no adro, antes de sofrer horrores, até a morte, nas mãos das autoridades coloniais. Passados três séculos, a igreja volta a ganhar destaque e reconhecimento para mostrar o esplendor da arte barroca e sua importância na memória brasileira. A partir de março, ela começa a ser restaurada, tornando-se a primeira, no país, a receber recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas. A previsão é de que, em 18 meses, a matriz tenha, recuperados, dos detalhes da estrutura aos ricos elementos artísticos.
Admirar os altares suntuosos, o forro pintado, as portas de madeira e as paredes grossas é viajar de volta nos séculos e conhecer mais sobre Ouro Preto, na Região Central de Minas, a 95 quilômetros de Belo Horizonte. Mas, como quase sempre ocorre, insetos, infiltrações e alguns desvarios humanos e do tempo fizeram um serviço completo, deixando à mostra perda de pintura, partes carcomidas, teto despencando, deslocamento de talhas e outros absurdos. “A obra chega em boa hora, principalmente para proteger dos abalos a estrutura física do prédio. Os douramentos, por sua vez, estão encardidos, nem dá para se apreciar direito a beleza dos altares. A igreja também não tem extintores de incêndio”, diz o padre Oldair de Paulo Mateus, há um ano à frente da paróquia. O grande trunfo, revela, está na segurança patrimonial, considerada uma das mais eficazes de Minas. “Parece abençoada, não sofreu furtos.”
Tombada há 60 anos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Matriz de Nossa Senhora de Nazareth, na Praça Felipe dos Santos, vai receber verba de R$ 1,8 milhão, do Ministério das Cidades, e contrapartida de R$ 200 mil da prefeitura local. Segundo o prefeito Angelo Oswaldo (PMDB), a igreja já dispõe de projeto de reforma aprovado pelo Iphan, o que facilitou a liberação dos recursos, em dezembro. “O trabalho de recuperação será fundamental, pois se trata de uma das primeiras e mais importantes igrejas do estado. O altar-mor e os seis laterais, entalhados em madeira dourada, são no estilo nacional português, da primeira fase do barroco mineiro. A obra é motivo de comemoração”, afirma o chefe do Executivo, que fez os entendimentos para liberação dos recursos com o ministro das Cidades, Márcio Fortes.
O secretário municipal de Patrimônio e Desenvolvimento Urbano de Ouro Preto, Gabriel Gobbi, lembra que serão contempladas, além da estrutura e elementos artísticos, a troca de madeiras, implantação de sistema de descupinização e outras ações fundamentais para a estabilidade e conservação do monumento. De acordo com informações do Iphan, em Brasília (DF), trata-se da primeira igreja no país a receber os recursos do PAC Cidades Históricas. Articulado pela Casa Civil, em parceria com o Iphan, ministérios da Cultura, do Turismo, Educação e Cidades e estatais, o programa está investindo R$ 140 milhões em 32 cidades de 17 estados – em Minas, serão aplicados, no primeiro ano, R$ 17 milhões.
Gustavo Werneck - Estado de Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário